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20 de jun. de 2008

...E TOME-LHE LENHA NA FOGUEIRA!!!

...na fogueira das discussões, é óbvio!
Tenho observado que grande parte das pessoas que defendem a perpetuidade da queima livre e desmedida de lenha, nas celebrações juninas, utilizam-se muito do argumento da manutenção das nossas tradições culturais e pouquíssimo dos fatos ambientais. Eu não sou contra tal tradição cultural, contanto que nela seja inserida uma limitação consciente, com preocupações para não alimentar a tão disseminada “cultura do desperdício”, que viceja no nosso país. Já nos basta a barbárie da perda de um terço do alimento produzido no Brasil, do local de sua produção até a mesa do consumidor.
Numa análise muito resumida, dois aspectos vêm se sobressaindo entre aqueles que, incontinente, defendem a manutenção dessa tradição, sem nenhum reparo: 1) A manutenção das fogueiras por tratar-se de uma tradição cultural (a comida típica, a dança e as brincadeiras em torno da fogueira...), manifestação religiosa (relembrando o ato de Isabel avisando à N.Sra. que tinha dado à luz, o devoto pisando em brasa...); tudo isso sob a óptica dos cristãos católicos, até há pouco tempo uma massa cristã dominante! 2) A contribuição ínfima desse ato de queima, ao aquecimento global ou efeito estufa.
Como ecólogo, não me atrevo a comentar sobre tradições religiosas, nem sobre a importância das manifestações de fé, ou mesmo diversão, uma das pouquíssimas de que dispõe o residente no sertão nessa curta época do ano, argumentam alguns. Atenho-me a comentar um pouco sobre o segundo aspecto dessa questão: a problemática ambiental.
Àqueles que priorizam a defesa das tradições, lembro-lhes que muitas outras tiveram que ser abandonadas por serem reconhecidamente “fora dos tempos atuais” ou impossíveis de serem praticadas, algumas em termos puramente ambientais, outras por princípios humanitários e outras por tudo isso e mais por terem sido adotadas práticas de maior avanço tecnológico e conseqüentemente, maior rendimento, conforto etc. Vejamos algumas: (1) tenho amigos que relatam com saudade os tempos em que saíam para o mar e traziam dezenas de quilos de lagosta, camarão e peixe (observação quase inútil: lembro-me que a última vez que comi lagosta, foi comprada pela minha mãe na porta de casa, nos anos 1967-69); (2) conheço senhores que relembram quando “se divertiam” nos fins de semana, saindo para caçar e seus filhos também praticavam matança similar com suas atiradeiras abatendo passarinhos, lagartixas e outros pobres animais; (3) quando em 1949 morei em Patos, bravio sertão paraibano, tinhamos energia elétrica até o começo da noite, gerada por queima de lenha (em João Pessoa e muitas outras cidades também foi assim, antes de mudar para queima de óleo e a partir da década de 1950 para geração hidrelétrica); (4) donde concluímos que a madeira era abundante (outra observação quase inútil: nos anos 1973-76 morei em Ilhéus, na Bahia, numa casa com o assoalho de quartos e salas taqueado com jacarandá, e hoje relembrando, acho que vou rir, porque se chorar, os móveis de minha casa, todos em aglomerado, se esfacelarão aos pingos de lágrima!).
E a contribuição das fogueiras ao efeito estufa? Grande parte dos processos na Natureza, mormente os deletérios, se somam. Se pudermos evitar a redução de gases do carbono emanados de atividades passíveis de contrôle, que o façamos. Não poderemos evitar que gás metano (do efeito estufa) seja emanado dos arrozais e da ruminação de bovinos, pois a população humana em breve chegará aos 10 bilhões e a expansão desse cultivo e de pastagens é inevitável. Os manguezais nos estuários também emanam tais gases, mas são responsáveis por uma das maiores produções de alimento do mundo.
Mas podemos reduzir emanação de gases do efeito estufa, optando por carros econômicos (enquanto um “SUV-Sport Utility Vehicle”, essas caminhonetonas, percorrem uma média de 5 km com 1 litro de gasolina, o meu carrinho percorre 14 km); podemos abolir a queima de florestas; e está ao nosso alcance atos simples, mas que contribuem positivamente, como a fogueira comunitária. Um lembrete importante: o São João é, antes de tudo, uma festa comunitária, bem lembrado pelo amigo agrônomo, pedólogo, Luiz Ferreira.

18 de jun. de 2008

A POLÊMICA DAS FOGUEIRAS

Conta-se que certo indivíduo tentou convencer outros, de diversas nacionalidades, a pularem num precipício. Ao inglês, convenceu-o dizendo que era um “pedido da rainha”; ao italiano, dizendo que lá embaixo “lhe esperava a Sophia Loren”; ao francês, “que era pela glória da França” e este despencou aos gritos de “Vive la France”!; ao americano dissuadiu-o dizendo que ele iria lá encontrar “1 milhão de dólares”; e ao brasileiro ... colocando uma placa É PROIBIDO PULAR.
Como professor de ecologia e pesquisador, nunca fui muito simpatizante do “proibir” e talvez por isso, nunca me atraiu a advocacia. Optei pela educação. Esta me parece ter bases mais construtivas e duradouras. Gostamos de dizer que muitos povos respeitam a lei, enquanto nós a tememos! É fato conhecido que nós aqui no Brasil dispomos das mais completas leis de proteção ambiental do mundo. E é também fato conhecido que nós estamos entre os maiores destruidores da Natureza, no mundo. Donde concluo que sensibilizar nosso povo para a necessidade de nos adaptarmos à mudança dos tempos e conscientizá-lo para a urgência em agir, em benefício das gerações futuras, é um imperativo incontestável. Enxergar muito mais adiante do que somente algumas poucas gerações à frente, como costumamos fazer ao dizermos “isto é para os meus filhos e netos”, faz-se necessário e urgente. Nossa responsabilidade é deixarmos a Natureza para as gerações futuras (sem limite), no mínimo, com os recursos que encontramos. Muitos ecólogos e outros profissionais que lidam com as questões ambientais, acham que temos o dever de deixar o nosso planeta em condições melhores até! Um dos fortes motivos para isso: a cada dia que se passa dispomos de mais conhecimento e melhores condições tecnológicas para assim fazê-lo.
Conservar a Natureza envolve muitas atitudes e procedimentos. Um deles, que sempre vem à tona nesta época do ano por suas conseqüências negativas é a queima desenfreada de lenha. Em alguns locais de nossa maravilhosa região nordeste existe até concurso para ver quem monta a maior fogueira! Oh meu Deus! Só me vem à mente esta expressão. Não gosto de sair de casa na véspera do São João para não ter que ver e sentir tamanho desperdício, principalmente porque tenho certeza que tal recurso natural renovável, não será renovado. Se assim o fosse, respeitando-se o uso adequado do solo, este lado negativo de nossas tradições se reduziria.
Reconheço e respeito as nossas tradições culturais da nossa festa do milho e de manifestação religiosa. Assar o milho numa fogueirinha e brincar em torno dela não é nenhuma tragédia ambiental. Mas soltar balão pode ser uma tragédia! O aquecimento global, a poluição atmosférica com gases do efeito estufa e partículas sólidas não sofrerão grandes acréscimos por causa disso. Mas, ainda sonho com o dia em que nesse momento de celebração, possamos reduzir o gasto com este recurso natural que ainda é de ampla utilidade para nós. A lenha ainda é o combustível para cozer alimento de muitas pessoas pobres; alimenta fornalhas de padarias, olarias e outros processos de produção. Quando estou em sala de aula, trabalhando com futuros pedagogos, insisto em que eles tentem convencer as pessoas das ruas em que moram, ou seus familiares, para fazerem apenas uma fogueirinha ou uma fogueira comunitária. Ao invés de 10 fogueiras por rua, 1 só fogueira já reduziria em 90% o gasto de lenha.
A consciência ecológica do agir localmente é um trabalho de formiguinha que só aparecerá globalmente se a prática dos 3 Rs (reduzir, reutilizar, reciclar) tornar-se rotina no dia-a-dia nas escolas e na nossa vida. Por isso, só acredito na EDUCAÇÃO.