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14 de jul. de 2010

ECOTURISMO OU “ECONEGÓCIO” SUSTENTÁVEL: MAMIRAUÁ COMO PRIMEIRO EXEMPLO

As transformações no sentido de abrir mentes para alternativas além do tão propalado agronegócio são muito lentas aqui no Brasil. É uma lástima, porque principalmente, os ecossistemas com características naturais e extensão suficientes para se praticar ambas as atividades (o agronegócio e o econegócio, ou ecoturismo) se reduzem a cada dia. Na postagem anterior neste “ecologiaemfoco” vimos uma fazenda em Mato Grosso onde o ecoturismo responde por 30% da sua renda. É um modelo simples, de conservação dos recursos naturais (preservação e explotação, simultaneamente) e que poderia ser adotado por muitos outros empreendimentos rurais.
O primeiro exemplo no Brasil introduzindo atividades de explotação em perfeita harmonia com o ecoturismo, constituindo-se assim num modelo de desenvolvimento sustentável, é o da Reserva do Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, na Amazônia central, entre os rios Solimões e Japurá. É a maior reserva florestal de várzea da Amazônia brasileira, constituída de ecossistemas terrestres e aquáticos espalhados por cerca de 1,124 milhões de hectares (= 11.240 mil km2). As populações humanas locais participam da conservação e preservação da reserva, envolvendo-se nas atividades de pesquisa, extensão e manejo; assim como na sua vigilância. O desejo da sociedade (Instituições de governo e não governamentais) de realizar algo nesse sentido foi o ponto-chave de sua concretização. Foi reconhecida como Reserva de Desenvolvimento Sustentável, pelo governo do estado do Amazonas, em 1996. A garantia de preservação de cerca de 300 espécies de peixes, outro tanto de espécies de aves e mais de 40 espécies de mamíferos dá-nos uma idéia de seu importante papel de manutenção da biodiversidade amazônica.
Mas no Brasil há, além do bioma da Amazônia, outros biomas que necessitam de projeto semelhante, tais como os biomas de Mata Atlântica, do Cerrado, da Caatinga,do Pantanal, dos Campos Sulinos e o bioma Costeiro. O agro e o econegócio podem ser inseridos juntos nesses sistemas naturais.
Vejamos o vídeo aqui anexado, sobre o projeto.

11 de jul. de 2010

AGRONEGÓCIOS EXCLUSIVAMENTE!? POR QUE NÃO TAMBÉM "ECONEGÓCIOS"???

Houve tempo em que caçar era meio de sobrevivência e posteriormente meio de vida comum a muitos povos. Depois surgiram os tempos modernos, em que a caça transformou-se em esporte ou seja, diversão (por incrível que pareça!). Países do antigo terceiro mundo, hoje países em desenvolvimento, atraíram milhares de turistas que se divertiam com matanças da fauna local, como acontecia nos países africanos. Lembro-me de um fato pitoresco (para não dizer grotesco!) envolvendo um empresário brasileiro. Existe uma marca de produtos de tomate, fabricados em São Paulo, cujo símbolo era (ou ainda é?) a figura de um elefante. Explica-se: o empresário era “fanático por elefantes”, ou melhor dizendo, costumava fazer safáris na África para matá-los e colecionar troféus em sua casa!!!
O chamado “turismo de vida selvagem”, hoje mais conhecido como ecoturismo, passou a ser uma saída inteligente para muitos países, principalmente os africanos. Destaco um dos melhores exemplos, que nos é dado pelo Quênia, país do leste africano. A caça ao leão gerava U$1 mil dólares pela pele de cada animal morto. A mudança para o ecoturismo passou a render cerca de U$500 mil dólares por cada ano de vida do leão, cuja longevidade alcança os sete anos. E, ainda no Quênia, no caso do elefante, cada animal gera no ecoturismo uma renda anual de U$20 mil dólares. Acrescente-se a essa renda os cerca de 20 mil elefantes lá existentes. No final, estima-se que o ecoturismo com o elefante propicie uma renda, ao longo dos 60 anos de vida desse animal, de cerca de U$1 milhão de dólares.
E agora a situação brasileira. Muito se fala atualmente em agronegócios. Deposita-se nessa atividade econômica a esperança de fonte de renda chave do país, com uma conotação preocupante: na maioria das regiões os governos locais querem priorizar esse tipo de atividade. Mesmo em locais com baixo potencial para agropecuária, solos de terra-firme na Amazônia é o exemplo maior, o agronegócio é prioritário. Ao ecoturismo é reservado um papel secundário (quando muito!). Situação similar ocorre com relação ao pantanal. Não é difícil antever problemas ambientais se o agronegócio se generalizar no pantanal. E o econegócio lá existe, conforme pode ser visto no vídeo aqui anexado (obtido de Globo Rural). Este exemplo penso ser suficiente por si só, para demonstrar o potencial rentável do ecoturismo no pantanal.

10 de jul. de 2010

MODIFICAÇÕES NO CÓDIGO FLORESTAL: UMA CONTRIBUIÇÃO DOS NOSSOS LEGISLADORES AO DESENVOLVIMENTO “INSUSTENTÁVEL”



Componentes da bancada ruralista no Congresso Nacional ao se digladiarem com ambientalistas na sessão para discutir as modificações no Código Florestal, despertaram-me a responsabilidade, como professor de ecologia, de tecer alguns comentários sobre o que me parece ser o único objetivo do agronegócio: produzir o máximo possível a qualquer custo. Daí vem os ambientalistas e se opõem fortemente com o seu lema: preservar a qualquer custo. E quando “ambientalistas exacerbados e ruralistas cabeças-de-cofre se peitam”, resta aos adeptos da ciência e do bom senso apenas assistir impotentes à mutilação desse importante instrumento de proteção ao nosso patrimônio natural, que é o Código Florestal.

Vivemos num país onde as leis ambientais, em muitas situações, não se fundamentam em princípios ecológicos e econômico-sociais; e a política ambiental chega a ignorar ambas estas etapas sobre as quais deveria se fundamentar. Donde pergunto, mesmo correndo o risco de ser taxado de satírico: pra que se “gastar” tanto dinheiro com a formação de cientistas? Pra que tanto “desperdício” com ciência? Ignorância é bem mais barato!!!

É impressionante observar como nossos legisladores, achando-se defensores do progresso econômico do país e ignorando totalmente as informações geradas pelo conhecimento científico, modificam leis que tinham sido introduzidas com priorização para a conservação de importantes recursos da Natureza, baseadas no conhecimento científico. Exemplos práticos: 1) a obrigatoriedade de proteção nas margens de rios (mata ciliar), que ora se propõe reduzir; 2) várzeas e altos e encostas de morros estão se transformando em áreas onde não é necessário preservar a vegetação nativa. Em todas essas situações as supostas novas leis contrariam o que o conhecimento científico tem mostrado a esse respeito.

A chamada “classe produtora” prioriza o agronegócio negligenciando a ordem natural de qualquer ação no processo produtivo: o desenvolvimento ecológico antecede o desenvolvimento econômico, que por sua vez antecede o desenvolvimento social. Portanto, somente é possível garantir produção ao longo do tempo mantendo-se o potencial natural dos ecossistemas.

As tragédias que temos vivenciado no caso recente dos deslizamentos nos morros em Santa Catarina e Rio de Janeiro e no caso das enchentes dos rios e grandes destruições de cidades que estamos hoje vivenciando nos estados de Alagoas e Pernambuco, não servem de alerta para aqueles que acham simples expandir as áreas produtivas, invadindo-se margens de rios e acelerando-se a erosão nos altos e encostas de morros. Tais atitudes condicionam deslizamentos e assoreamento dos rios. E depois... lamentam-se as enchentes, culpando-se a Natureza pelos excessos de chuva. Já são fatos por demais conhecidos que altos e encostas de morros, assim como margens de rios, são ambientes que devem ter PERMANENTEMENTE densa vegetação nativa. É FUNDAMENTAL que a mata ciliar seja densa e com largura suficiente devido ao efeito de borda (susceptibilidade das bordas de sofrerem ação externa de degradação). São locais tidos como de acentuada fragilidade, com baixa resistência a modificações e com baixa resiliência, ou seja, baixa capacidade de retornarem à condição natural após serem alterados. Para reduzir a largura da área a ser preservada, com segurança, seria necessário estudar-se cada caso; aspecto este geralmente não admitido em leis.

E o povo, de baixo poder aquisitivo, principalmente aquele instalado às margens de rios, nas encostas e sopés de morros, cada dia mais acostumado a viver de “caridade de governo”, acredita que tal expansão de áreas para cultivo e/ou ocupação urbana, lhes trarão vantagens financeiras que, se ocorrerem, são efêmeras e que JAMAIS farão parte de processo de desenvolvimento sustentável. Mas os legisladores defensores de “lobby” ruralista e não de real desenvolvimento sustentável, continuam utilizando esse jargão que facilmente engana a maioria, que não tem culpa de desconhecer a gravidade das modificações ora propostas no código florestal.

Expansão e intensificação de uso de solo são termos que geram conseqüências muito distintas quando se trata de atividade agropecuária e crescimento urbano. A expansão agropecuária e o crescimento urbano horizontal implicam em custo muito alto em termos de conservação e preservação ambiental. A intensificação de atividade agropecuária se realizada com bases científicas e aplicação de tecnologia apropriada, assim como o crescimento vertical urbano, se implantado com base em conhecimento provido por bons profissionais, poderão caracterizar um desenvolvimento sustentável real.