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23 de jan. de 2011

A “METAMORFOSE” DO RIO JAGUARIBE: DE IMPORTANTE COMPONENTE AMBIENTAL / PAISAGÍSTICO E HISTÓRICO... PARA PROBLEMA URBANO

Jaguaribe, que em tupi-guarani significa “rio das onças” (ou rio onde a onça bebe água”), nos tempos em que o litoral em João Pessoa era coberto pela Mata Atlântica, certamente era habitat de onças, teiús, cágados, aves e muitos outros animais nas suas margens, assim como jacarés, muitos peixes e camarões nas suas águas. Até início da década de 1960 um dos primeiros residentes de uma rua que hoje se liga à Av. Min. José Américo de Almeida (ou Beira-Rio, como prefere a população de João Pessoa), garantiu-me que à noite ele descia para o rio (no trecho hoje próximo à Rua Wandick Filgueiras) e costumava encher uma lata de 20 kg “só com camarão”!!!.
Este rio nasce no bairro de Esplanada, próximo ao bairro de Oitizeiro na área conhecida como Três Lagoas às margens da BR101. É o rio mais longo de João Pessoa. Tem um comprimento aproximado de 20 km, recebendo no seu percurso um único afluente importante, o rio Timbó. Recebe no seu curso não somente águas pluviais de mais de 10 bairros da cidade, alguns de “grande destaque social”, como também esgotos clandestinos, sendo por isso muito poluído. A própria CAGEPA – Companhia de Águas e Esgotos da Paraíba mantém uma estação elevatória de esgotos ao lado da Av. Min. José Américo de Almeida (ou Beira-Rio, como prefere o povo), próximo ao hospital da Unimed e quando há problema com a bomba elevatória (quando se quebra ou falta energia elétrica) o esgoto é forçosamente despejado no rio Jaguaribe. Outro exemplo de fonte de poluição: numa operação de limpeza do rio Jaguaribe, feita em junho/2010, a EMLUR – Empresa de Limpeza Urbana, de João Pessoa, retirou no trecho entre as comunidades de São José e Chatuba, ambas em Manaíra, cerca de 400 toneladas de lixo, entulho e vegetação.
Seu percurso foi modificado há algumas décadas, sendo desviado para o rio Mandacaru, na altura do Shopping Manaíra, com a finalidade principal de diluir os esgotos que eram despejados diretamente no rio Paraíba. Hoje, há lagoa de estabilização (em lugar de uma antiga pedreira) no baixo Roger, antes da água residuária ser conduzida para o rio Paraíba. Ao lado do referido shopping há um canal conduzindo parte das águas do rio Jaguaribe (do trecho desviado) e águas pluviais (que antes eram despejadas no rio) para o trecho do Jaguaribe que continua fluindo lentamente, passando ao lado do supermercado Hiper Bom Preço (paralelamente à BR 101), e à altura da mata antes conhecida como “da Amem”, agora Floresta Nacional da Restinga, segue na direção da praia, onde desemboca formando um pequeno manguezal. Ao passar por uma comunidade estabelecida “quase que dentro do rio”, na Av. Pres. Campos Sales, sua poluição e degradação aumentam significativamente.
O seu assoreamento é muito intenso, como se vê nos vídeos aqui anexados. Sua declividade média não ultrapassa 2m/km. Seu fluxo é então, muito lento. Nem por tudo isso, deve-se considerar o Jaguaribe como “rio morto”. Devemos acreditar que o PAC – Plano de Aceleração do Crescimento, instituído no governo do Presidente Lula (recente ex-Presidente) irá por em prática sua revitalização. Prevê-se para 2011 a aplicação de recursos do PAC-2 de R$167 milhões para revitalização do Baixo Jaguaribe, onde se situam as comunidades da Saturnino de Brito (bairro de Jaguaribe) e de São José (bairro de Manaíra) totalizando uma área de quase 35 mil hectares, com aproximadamente 10 mil moradores. O rio Jaguaribe é um marco histórico importante para a Paraíba; por ele os holandeses invadiram a Paraíba.
No ano de 2003 a Defesa Civil Municipal registrou no período típico chuvoso (abril–maio–junho) o transbordamento do rio Jaguaribe no trecho da comunidade São José, com as fortes chuvas que caíram entre os dias 13 e 21 de junho com precipitação total de 359mm nos 09 dias do intervalo acima, resultando no desalojamento de 350 moradores que ocupam as margens do rio. Setenta casas foram atingidas pela inundação. Esse dado e mais outras informações podem ser vistas na dissertação de Mestrado de Jocélio Araújo dos Santos (“Análise dos riscos ambientais relacionados às enchentes e deslizamentos na favela São José, João Pessoa – PB”, 2007, Curso de Mestrado em Geografia, da UFPB, publicação disponível na internet, em pdf).
E assim, talvez ainda por um período de tempo incerto, aguarda-se a nova temporada de chuvas para após ela, avaliarmos os “prejuízos” causados ao longo do rio Jaguaribe. Vejamos a sequência dos vídeos: 1) Rio Jaguaribe no trecho da Mata do Buraquinho. 2) Rio Jaguaribe no trecho da Rua Tito Silva, no bairro do Castela Branco. 3) Rio Jaguaribe no trecho da "Beira-Rio". 4) Rio Jaguaribe no trecho da comunidade São Rafael, ao lado do Shopping Manaíra.



15 de jan. de 2011

PRÁTICA DE CAMPO: ESTIMATIVA DE ÁREA BASAL DE REMANESCENTE DE MATA ATLÂNTICA

ÁREA BASAL - Conceito
A área basal é uma área seccional transversal de árvores, comumente medida à altura do peito (D.A.P. ou diâmetro à altura do peito), referindo-se assim a um valor de cobertura, por plantas, de uma determinada área de superfície do solo. É um bom indicador da densidade de vegetação de um ecossistema.
Procedimentos
Delimita-se com uma corda ou fita larga, uma área quadrada. No vídeo delimitamos uma área de 20m X 15m = 300m2. Mede-se o perímetro das árvores à altura do peito, incluindo-se na medição somente as árvores com perímetro maior do que 10 cm. Observação: a amostragem, ou seja, o número de áreas quadradas a serem delimitadas, escolhidas aleatoriamente, deverá ser representativo do tamanho do ecossistema em estudo (para estudo detalhado, incluindo estimativas estatísticas sobre este método ver: Martins,F.R. (1993). Estrutura de uma floresta mesófila. 2a ed. Campinas, Edit. da Unicamp, 246p).
Pode também ser utilizado o seguinte procedimento: estira-se uma corda (de 50m de comprimento) através da área de mata a ser estudada, medindo-se então a área basal de todas as árvores encontradas ao longo da corda e que sejam encontradas a 2 m (de um lado e do outro da corda). Essa área totalizará 50m X 4m = 200m2). Procede-se agora como descrito acima (para a área quadrada).
A partir da fórmula r = P/2 X 3,14 [valor de "pi"], onde r é o raio e P é o perímetro medido de cada árvore, calcula-se a área basal, que será então: A = 3,14 X r2.
A visão de uma determinada área em que se efetuou a medição de área basal seria semelhante à de uma “vista aérea” de um trecho da mata, como se as árvores (com mais de 10 cm de perímetro) tivessem sido cortadas (a 1,30 m do solo) [como mostra esquema no vídeo].
Pode-se estimar o percentual da área basal que ocupa a área delimitada. Seria também um dado importante se a identificação taxonômica das árvores medidas fosse efetuada.
Os resultados obtidos podem ser comparados com os relatados na literatura, referentes a vários ecossistemas florestais.

9 de jan. de 2011

UM PEQUENO EXEMPLO DA CONVIVÊNCIA DO SER HUMANO COM O “EFEITO DE BORDA” NA MATA ATLÂNTICA

Num remanescente de Mata Atlântica situado no campus da UFPB – Universidade Federal da Paraíba, destacamos no vídeo aqui anexado, um exemplo das consequências negativas para as atividades nessa Universidade do efeito de borda, um fenômeno natural que ocorre muito comumente em ecossistemas de mata tropical.
A grande densidade de árvores, principalmente, que caracteriza um ecossistema de floresta tropical, como o de Mata Atlântica, é um fator de grande importância à sustentação dos componentes vegetais dessa mata. Sabemos que as árvores, embora tenham uma raiz principal de sustentação (raiz pivotante) e muitas outras raízes secundárias que reforçam sua sustentação, há um sem número de raízes que se concentram na superfície (nos 10 cm superiores do solo, aproximadamente), que participam ativamente da absorção de nutrientes que são liberados da abundante matéria orgânica concentrada em cerca de três camadas de deposição, que chamamos de necromassa. Sendo assim, é de grande importância à sustentação das próprias árvores, a manutenção da densidade de vegetação na Mata Atlântica.
Aproximar construções (prédios) da borda da mata passa a ser um risco, uma vez que há uma tendência, devido ao efeito de borda, de que ramos e folhas das árvores caiam com mais intensidade e frequência, devido às condições climáticas mais rigorosas nas bordas do que no interior da mata, como por exemplo, temperatura e radiação solar mais elevadas, mais ventos e menor umidade relativa do ar.
Este fato demandaria mais precauções nas construções feitas próximas à borda, como sejam: não efetuá-las muito próximas da borda, mantendo um aceiro de largura suficiente para evitar passagem de animais para os prédios sem serem visualizados, assim como evitar queda de ramos pesados que possam danificar o prédio; construção de um telhado adequado que evite que as folhas que caiam sobre ele se acumulem e causem problemas de infiltração durante as chuvas; e necessariamente, implantar um sistema de manutenção permanente de podas e remoção de partes caídas das árvores. É muito comum que nas bordas se desenvolvam exemplares de embaúba (Cecropia sp) ou árvore da preguiça, que é típica de mata secundária aqui nos trópicos e que geralmente têm uma vida não muito longa (uns 20 anos).
No vídeo são ilustradas algumas dessas características acima relatadas.

3 de jan. de 2011

FATORES ECOLÓGICOS IMPORTANTES À MANUTENÇÃO DA MATA ATLÂNTICA: BIOGEOCICLAGEM

Partes caídas de plantas (troncos, ramos, folhas, flores, frutos...) e animais mortos, formam a necromassa sobre o solo das florestas. Aqui na Mata Atlântica distinguimos facilmente na necromassa, três camadas de matéria orgânica de superfície: 1) Partes de plantas ainda não decompostas; 2) Partes parcialmente decompostas; 3) A maioria das partes se encontram quase que totalmente decompostas, misturando-se com as partículas minerais do solo, formando o húmus.
E sob a necromassa encontramos uma “densa rede de aprisionamento da matéria orgânica em decomposição” formada pelas raízes das plantas. Esta “rede” é típica de florestas tropicais, estabelecidas sobre solos pobres, como são os latossolos da Mata Atlântica. Essas raízes absorvem minerais que seriam lixiviados (lavados) pelas chuvas, que são intensas nos trópicos. A maioria das árvores da Mata Atlântica têm suas raízes infectadas por fungos endomicorrízicos, que absorvem os nutrientes mineralizados pela decomposição, transportando-os diretamente para o interior das raízes.
É esse processo de imobilização dos nutrientes (retidos na matéria orgânica) e sua posterior mineralização (liberação para o solo), que denominamos de “biogeociclagem”.
É muito importante assinalar que essa camada formada pelo húmus e raízes concentram-se nos 10 cm superiores do solo. Acredite se quiser! A riqueza do solo de Mata Atlântica está concentrada nos 10 cm superiores do solo!!!
Outro fato de fundamental importância é que a maioria dos nutrientes da Mata Atlântica concentra-se na fitomassa (ou biomassa vegetal), em oposição às florestas de clima temperado onde a maioria dos nutrientes concentra-se no solo. Portanto, manter a floresta tropical “em pé”, é o ponto-chave para sua preservação.

FATORES ECOLÓGICOS IMPORTANTES À MANUTENÇÃO DA MATA ATLÂNTICA: ENERGIA

Vamos dar início a uma série de ilustrações, com vídeos curtos, sobre algumas características relevantes de nossos ecossistemas. Focalizaremos inicialmente, a Mata Atlântica e suas características de adaptação ao fator radiação solar, ou energia.
Este ecossistema, também denominado de floresta latifoliada tropical úmida da encosta, estendia-se quase ininterruptamente do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul; estimando-se hoje que exista apenas 5% da mata original. Ela é tão rica em espécies vegetais e tão densa quanto a floresta amazônica, embora suas árvores pareçam ser um pouco mais baixas. O solo é mineralogicamente pobre (latossolo). Destacaremos algumas características de adaptação das plantas ao ambiente tropical: com valores elevados de pluviosidade (e umidade), luminosidade e temperatura.
Características gerais, de destaque, da Mata Atlântica:
a) Estratificação típica dos ecossistemas tropicais de floresta, com predominância do estrato arbóreo; grande densidade de plantas.
b) A competição pela luz força as árvores a um crescimento para o alto, muito acentuado, quase sem ramificações; e como consequência, grande parte das árvores, cujas copas recebem luz solar direta, tem folhas pequenas; as plantas do estrato arbustivo têm por vezes folhas grandes; algumas têm folhas pontiagudas que facilitam o escorrimento da água da chuva; a concentração de clorofila nas plantas de sombra, comunicando coloração verde intenso às folhas, é frequentemente observada.
c) Existência de epífitas (bromélias e trepadeiras).
d) Umidade e temperatura do ar elevadas; radiação solar quase não atingindo o solo, onde as variações de temperatura são muito pequenas.
e) Grande diversidade de espécies vegetais, em contraste com as florestas homogêneas da Europa e da América do Norte. Numa reserva biológica no Espírito Santo foram registradas 476 espécies de árvores num hectare. Um recorde mundial.
f) Espesso manto de matéria orgânica morta no solo (necromassa), formado por, pelo menos, três camadas distintas (horizonte 01 = partes de plantas recém caídas; 02 = detritos orgânicos em decomposição e A1 = início do horizonte mineral contendo matéria orgânica já decomposta ou húmus).
g) As raízes se ramificam e formam densa rede de “aprisionamento” da matéria orgânica em decomposição na superfície do solo; muitas plantas interagem com fungos endomicorrízicos que infectam essas raízes, absorvendo os nutrientes e transportando-os para o interior das raízes, antes que sejam lixiviados (carregados) pela chuva.
h) O fato de que as raízes são superficiais, mesmo as secundárias grossas, poderia comprometer a sustentação das árvores, porém observe-se que pela própria densidade de vegetação, as árvores se tocam pelas copas e assim se sustentam; além disso, muitas árvores formam raízes tabulares que auxiliam na sustentação e também atuam na respiração, pois no solo há forte competição por oxigênio com os microrganismos. Estes aspectos evidenciam a necessidade de se manter a mata com sua densidade original.
i) O solo é ácido (pH 4 a 5); isto demonstra a baixa adequação do solo para grande parte dos cultivos.
j) Diversidade animal elevada; muitos animais (macacos e aves) vivem no estrato arbóreo, protegendo-se dos seus inimigos naturais e alimentando-se das frutas; a mata atlântica é muito rica em borboletas; no solo vivem vários roedores e outros mamíferos.
k) É fácil concluir que sobre solos pobres, sujeitos à lavagem pela chuva, a mata deve ser preservada, pois representa a melhor maneira que a Natureza encontrou, após milhares de anos de evolução, para manter-se bem adaptada e com alta produtividade e eficiência ecológica; nela é evidente a importância do fluxo energético e da biogeociclagem.
Vejamos o vídeo, de curta duração, ilustrando alguns dos aspectos destacados acima, sobre o fator ecológico radiação solar.