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12 de fev. de 2014

ESPECIAÇÃO NA MATA ATLÂNTICA E NA AMAZÔNIA RELACIONADA À ENERGIA SOLAR


A pesquisadora Marie-Pierre Ledru, do Institut de Recherche pour le Développement, de Montpellier, na França, apresenta resultados de estudo durante o Workshop Dimensions US-BIOTA São Paulo (foto: Samuel Iavelberg/FAPESP)

[Reproduzido de Agência FAPESP]
Especiais

Pesquisa relaciona especiação na Mata Atlântica e na Amazônia à incidência de energia solar

12/02/2014

Por Noêmia Lopes

Agência FAPESP – Na Mata Atlântica e na Floresta Amazônica, os eventos de especiação (formação de novas espécies biológicas) ocorridos ao longo do período Quaternário (com início há 2,7 milhões de anos) coincidiu com períodos de baixa variabilidade de insolação, ou seja, incidência de energia solar.

conclusão foi apresentada no Workshop Dimensions US-BIOTA São Paulo, realizado na sede da FAPESP na segunda-feira (10/02) –, e é resultado da pesquisa “Temporal scales of climatic changes and paleodiversity patterns in the Atlantic Rainforest”, conduzida noInstitut de Recherche pour le Développement (Montpellier, França) sob a coordenação de Marie-Pierre Ledru e desenvolvida no âmbito do projeto Dimensions US-BIOTA São Paulo.

Ledru explicou à Agência FAPESP que os relógios moleculares – modelos matemáticos que os geneticistas utilizam para determinar as taxas das mutações genéticas de determinada espécie – não coincidem com os ciclos de precessão (ciclos pluviométricos que se repetem a cada 23 mil anos, força motriz do clima no Quaternário), nem com qualquer outro ciclo conhecido, à exceção do chamado ciclo de excentricidade.

“Trata-se de um ciclo de 400 mil anos relacionado à quantidade de energia que incide sobre a superfície da Terra. Notamos que a maioria da especiação e a diversificação de espécies na Mata Atlântica e na Floresta Amazônica acontecem justamente nos períodos de baixa variabilidade de insolação”, disse.

De acordo com Ledru, o Institut de Recherche pour le Développement focou seus estudos em análises com espécies de aves, encaminhadas por equipes da Universidade de São Paulo (USP). “Mas já sabemos que o mesmo pode funcionar com espécies vegetais e anfíbios, entre outros seres vivos”, disse.

A hipótese ainda não foi comprovada com registros fósseis, pois, segundo Ledru, os registros mais antigos a que se tem acesso datam de apenas 130 mil anos atrás. Mas a equipe da pesquisadora prevê, para 2015, perfurações na Cratera de Colônia, no extremo sul da cidade de São Paulo, para investigar mais sobre a história paleoecológica da Mata Atlântica por meio de registros fósseis de pólen, análises de isótopos, entre outros indicadores.

A relevância de estudos como esses vem do fato de que, em torno da evolução da Mata Atlântica, ainda paira a dúvida que a evolução da Floresta Amazônica suscita há pelo menos 30 anos: será que o último máximo glacial contribuiu para a especiação nesses biomas? E, durante o Quaternário, que consequências o sistema glacial e interglacial provocou em animais e plantas?

“As pesquisas realizadas até hoje apontam que as respostas fornecidas pelos ciclos glaciais e interglaciais não respondem a essas perguntas sobre especiação. Por isso, estamos buscando outras ideias e hipóteses, como esta que relaciona excentricidade e diversificação de espécies”, disse.

No sentido de aprofundar conhecimentos sobre energia solar, clima e especiação, os próximos passos de pesquisas previstos por Ledru são estudar fósseis mais antigos e de períodos contínuos; aprimorar a cronologia oferecida pelos relógios moleculares; e, quem sabe, redefinir a organização das florestas no Holoceno (período que vai desde a última era glacial, há cerca de 12 mil anos, até os dias de hoje) levando em conta as mudanças em termos de insolação. 

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