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5 de fev. de 2015

USINAS-PLATAFORMA: MELHOR CUSTO BENEFÍCIO!? OU "UTOPIA"!?


Teoricamente viável, com vantagens socioambientais imagináveis, mas uma "caixa-preta" de custos!!!

Reproduzido de : http://www.cerpch.unifei.edu.br/arquivos/revistas/60/hidro-hydro-60-pag-28a30.pdf

Quando o país começou a falar sobre a implantação do conceito de usina-plataforma, solução menos agressiva ao meio ambiente, a previsão era realizar o primeiro leilão em 2011, com a hidroelétrica de São Luiz do Tapajós, de 6.133 MW, entrando em operação em 2016. Três anos depois e uma série de entraves ambientais, jurídicos e atrasos nos estudos de viabilidade que minguaram a participação hídrica nos últimos leilões, o governo volta a falar em licitar a megausina localizada no rio Tapajós (PA) este ano [2014].
Projeto considerado estruturante e prioritário pela Resolução n. 3 do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), São Luiz do Tapajós, se sair da gaveta, terá peso considerável para o país. Dos 19.917 MW de projetos hidrelétricos incluídos no Plano Decenal de Energia (PDE 2022), a usina representará mais de 30% da capacidade prevista para entrar daqui a oito anos.
Além do bloco considerável de energia hidroelétrica, São Luiz do Tapajós também vai representar um desafio para a engenharia brasileira. O projeto será o primeiro a adotar, no país, o conceito de usina-plataforma, uma solução para preservar o meio ambiente de uma região onde está localizada a maior parte do potencial do país estimado em 260 GW.
"O governo trabalha para licitar a usina este ano" [2014] informou Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) logo após o último leilão de energia de 2013. Coordenado pela Eletrobras, o grupo responsável pelos estudos de viabilidade tem até 31 de julho [2013] para concluir o trabalho, de acordo com prazo estabelecido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
O prazo anterior para entregar os estudos ao Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) era 20 de novembro do ano passado [2012].  Os estudos de São Luiz do Tapajós, assim como os da hidrelétrica de Jotobá (2.338 MW), no mesmo rio, foram retomados em agosto de 2013.
Estima-se que, com 6.133 MW, São Luiz do Tapajós, produza por ano quase 30 mil GWh. A usina terá uma área inundada de dois mil metros quadrados, deixando uma área protegida de aproximadamente 100 mil metros quadrados.
Conceito da usina
Os entraves ambientais para licitar novos projetos hidroelétricos levaram o governo a lançar mão do modelo de usina-plataforma, o que significa fazer um projeto encravado numa região de floresta. O conceito busca evitar a criação de vilas e núcleos urbanos no em torno da hidrelétrica, com grande mobilização de trabalhadores, como normalmente acontece em obras deste porte.
Na fase de construção da obra da usina-plataforma, modelo apresentado anos atrás por Márcio Zimmermann, secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia (MME), os trabalhadores trabalhariam em turnos, sendo transportados para o local por helicóptero ou por terra. Quando em funcionamento, a usina teria uma operação toda automatizada, requerendo o trabalho de um número menor de pessoas.
"A ideia da usina-plataforma é a baixa intervenção humana ao meio ambiente em redor. Em outras palavras, não há perda de florestas para a urbanização, o que permite a preservação", explica Leontina Pinto, diretora executiva da Engenho, Pesquisa, Desenvolvimento e Consultoria.
Sobrecusto
Segundo estimativa do mercado, a construção das duas hidroelétricas, no rio Tapajós, deve ficar em torno de R$ 26 bilhões, sendo cerca de R$ 15 bilhões para erguer São Luiz do Tapajós. Este valor pode ainda ser bem maior, uma vez que a ampliação do projeto para 7.880 MW está em análise. O valor final depende, claro, de outras variáveis que serão incorporadas no projeto final.
"Não conheço o sobrecusto associado ao conceito plataforma, mas o transporte por via aérea deve ser mais oneroso do que a construção convencional", diz a professora Leontina Pinto. "Como todo novo conceito, julgo que sua implementação terá imprevistos e ajustes – que só serão conhecidos a longo prazo", acrescenta.
Embora considere crucial o país explorar o potencial hidroelétrico que tem na região Amazônica, João Carlos Mello, presidente da Thymos Energia e Consultoria, considera o modelo de usina-plataforma uma utopia. Para ele, ainda não existe um cálculo sobre o sobrecusto que uma obra de tal porte teria, sobretudo, pela logística que envolveria.
"Certamente, será um custo alto", diz. Para ele, se o planejamento quer retomar um pouco dos reservatórios, Tapajós, com um conjunto de sete usinas que somam um potencial de 14 mil MW, é um bom caminho. A professora Leontina Pinta reforça, afirmando que o modelo plataforma não implica em abrir mão de reservatórios.
Segundo ela, a construção e operação da usina-plataforma elimina apenas o custo ambiental da implantação de núcleosurbanos. "Não impede a construção de reservatórios, pois você pode ter uma enorme área inundada sem ter feito estradas ou vilas para a acomodação de trabalhadores", diz a diretora da Engenho. Para ela, está mais do que na hora de o país discutir o modelo energético que quer.
"Devemos abrir mão do potencial amazônico e enfrentar uma possível escassez, inclusive com o custo ambiental da pesada geração termoelétrica? Devemos buscar uma solução mais balanceada?, questiona.
Dados do artigo "Por que o Brasil está trocando as hidroelétricas e seus reservatórios por energia mais cara e poluente?, escrito por Márcio Tancredi e Omar Alves Abbud, da Consultoria Legislativa do Senado Federal, mostram como a capacidade do setor elétrico de acumular água nos reservatórios caiu nas usinas leiloadas entre 2000 e 2012.
Dos 42 projetos licitados no período, num total de 28,8 mil MW, apenas 10 usinas, com 1.940 MW, possuem reservatórios. Com 26,8 mmil MW, os demais 32 são a fio d"água. Ou seja, apenas 6,73% da capacidade de geração proveem de usinas com reservatório.
Pressão socioeconômica
No entanto, mesmo com a proposta do modelo de construção que será adotado, seria preciso enfrentar a questão ambiental e indígena da região. Assim como aconteceu com a hidroelétrica de Belo Monte (11.300 MW), no rio Xingu, as pressões sociais e ambientais farão parte do dia a dia de todo o processo de elaboração e licitação de São Luiz do Tapajós, localizada na região dos índios Munduruku. No Ministério Público Federal do Pará já existem ações contra a instalação da usina.
"As dificuldades para construir hidrelétricas nos casos dos rios Xingu e Tapajós são as mesmas. E da mesma forma, não há como se determinar se a regra do aproveitamento ótimo foi
cumprida nos estudos da bacia do Tapajós. É possível que a auto-restrição a que redução de custos e as facilidades de licenciamento ambiental costumam induzir tenha influenciado o inventário da bacia", aponta o artigo da Consultoria Legislativa do Senado Federal.

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