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21 de jun. de 2016

A ESTAÇÃO CIÊNCIA E A PROBLEMÁTICA DA PRESERVAÇÃO DA FALÉSIA DO CABO BRANCO. OU SERIA A PRESERVAÇÃO DE AMBAS???





Quem sou eu para não apoiar uma iniciativa pró-ciência?! Na juventude, eu procurava conhecer tudo sobre ciência que me chegasse ao alcance dos olhos e ouvidos (filmes e notícias de rádio e um pouquinho mais tarde, pela TV) e ao alcance do bolso (até em Seleções do Reader’s Digest!); e algumas vezes filava leituras nas revistas americanas Times e Newsweek. Optei na graduação e pós-graduação em buscar conhecimentos em ecologia. O governo brasileiro, mais precisamente, o povo brasileiro, investiu muito recurso na minha formação científica, feita no sul do Brasil e no exterior. Ciência, tornou-se a essência da minha atividade profissional. Somente no doutorado, já com 35 anos de idade, pude conhecer um local onde se vê, se sente, se vive um ambiente científico, disponível à visitação pública (um sonho em minha juventude!); foi nos Museu Britânico e Museu de História Natural, ambos em Londres.
Sempre tive a consciência de que era meu dever proporcionar retôrno à sociedade; pesquisando sobre nossos ambientes, ensinando e participando da formação de bons profissionais e, desejavelmente, participando de ações em questões ambientais relevantes. Mas, entre o que deveria ser feito e o que é realizado de fato, existe o nó górdio: governantes e políticos. Os desencontros foram tantos, que desisti de continuar realizando estudos de impactos ambientais, onde no final, eu somente servia para legitimar as ações desejadas pelos empreendedores! Muitas delas maléficas à Natureza. Mas sempre continuei à disposição para discutir ações que governos intencionassem perpetrar. Aliás, é um direito de qualquer cidadão participar de discussões sobre projetos em sua cidade.
Disso tudo, tiro algumas conclusões práticas sobre a implantação e construção de uma Estação Ciência, aqui em João Pessoa. LOUVÁVEL a iniciativa de uma obra desse porte. REPROVÁVEL o local específico escolhido para sua construção. Não me compete discutir aspectos relativos à prioridade (ou não) de cunho sócio-econômico, custo-benefício e outros...Nem tampouco sobre a exposição do equipamento ali instalado aos efeitos dos aerossóis marinhos (os borrifos, a maresia), pela grande proximidade à linha costeira e ausência de vegetação protetora (a restinga). A falésia do Cabo Branco, da formação Barreiras (costeira, terciária), de arenitos friáveis, caracteriza-se como área que, num critério ecológico passível de interferência humana receberia um sinal “vermelho”: nenhuma interferência humana deve aí ocorrer. Até algumas dezenas de metros adentrando o continente, o sinal seria “amarelo”: não é aconselhável interferência. Somente após os 100 m surgiria o sinal “verde”: apropriado a alguns tipos de interferência. O local onde foi construída a Estação Ciência situa-se na interface “vermelho-amarelo”, local este que encanta governantes e atrai turistas. Este último, infelizmente, critério prioritário de julgamento. Acrescentem-se nas interferências, as vias de acesso e o movimento para ali atraído. Alguns efeitos negativos: trepidação, aumento de fluxo de água pluvial e sua condução nem sempre perfeita, subtração de vegetação natural (redutora de impactos e fixadora do solo).
Há mais de duas décadas que observo e fotografo a falésia do Cabo Branco, que dizem estar sendo destruída peolo avanço do mar. Ledo engano! Há sinais de que a destruição vem ocorrendo de cima p’ra baixo! No sopé da barreira, atingida pelo mar, a Natureza se recompõe. Se dermos “uma mãozinha” a esse fenômeno natural, a falésia será preservada. Mas no topo dela, o homem vem comprometendo sua sustentação. As fotos acima ilustram os fatos: todas as fotos mostram que no sopé da barreira, a existência de rochas e ajuntamento de areia proporcionaram um ambiente propício ao aparecimento de vegetação natural, resistindo à ação do mar; a deposição de areia resulta do desmoronamento no topo da barreira (onde passa uma via asfaltada com trânsito de veículos); a foto inferior foi tirada exatamente na altura da localização do farol, onde os turistas param para observar a paisagem. São fatos ou serão só argumentos?!
De qualquer forma, é uma lástima que no nosso meio, iniciativa tão relevante não seja precedida por discussão de mesmo porte!!!

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